Se voce, assim como eu, leu os lábios do Washington após o primeiro do que ele fez contra o Palmeiras, eis que Juca Kfouri também leu e escreveu essa bonita coluna:
Por ROBERTO VIEIRA
O escanteio foi prosaico.
A bola descrevendo o arco inocente e despretensioso.
Washington, centroavante do Ceará Sporting, subiu aos céus.
A bola foi precisa nas redes de São Marcos.
O futebol está acostumado a comemorações ruidosas.
Socos no ar.
Palavrões.
Danças tribais.
Rituais pagãos.
Silêncios fúnebres.
Eis que Washington sai correndo e gritando:
“Vai com Deus, Vó Luiza!”
Pronto.
O telespectador ficou pasmo, catatônico.
O olhar melancólico de Washington se transfigura.
O atacante parece enxergar na tarde quente, o sorriso da avó.
“Vai com Deus, Vó Luiza!”
Mas quem será a Vó Luiza?
Não é preciso muito para compreender a situação.
Washington na concentração recebe a notícia.
Faleceu a Vó Luiza.
A doce senhora que encobria a peraltice do neto.
A doce senhora que contava histórias pro neto dormir.
Os tempos são de mais valia.
Tempos de direitos federativos e Clube dos Treze.
Tempos de corrupção na FIFA.
Tempos de sigilo nos superfaturamentos.
Pra quem ama o futebol e a vida.
Resta apenas repetir o gesto de Washington.
“Vai com Deus, Vó Luiza!”